constanza pascolato para marcia mello copy

Empresária e consultora , Costanza esbanja sabedoria ao falar de fama , tempo, saúde, família e reavaliação de valores. É hora de aprender muito com a grande dama da moda brasileira.

Se houvesse um dicionário que definisse palavras com pessoas, elegância seria seu verbete. Costanza Pascolato é o sinônimo mais preciso de mulher refinada, sem afetação. Dona de uma postura impecável, é assim de berço. “Tive a sorte e o privilégio de ter educação, de nascer no lugar certo”, faz questão de dizer, repetidas vezes. Aos 73 anos, Costanza Maria Teresa Ida Clotilde Pallavicini Pascolato tornou-se uma referência na moda brasileira.

Nascida na Itália, Costanza chegou ao Brasil aos cinco anos com os pais, Michele e Gabriella Pascolato, que, em 1948, fundaram a Tecelagem Santa Constância. Com a morte do pai, Costanza assumiu a tecelagem e a transformou numa das maiores empresas brasileiras do ramo têxtil, que até hoje fornece tecidos para os maiores estilistas do país. Sempre trabalhou e não suporta a ideia de ficar na dependência de ninguém.

Em anos remotos, quando a moda era um assunto desprestigiado nas redações, ela iniciou uma carreira paralela à de empresária nas revistas da Editora Abril. Foi consultora de moda da revista Claudia, e também colunista da Folha de S. Paulo. Integrou a equipe da Vogue no Brasil e até hoje é convocada para dar seus pareceres, como fez recentemente na Glamour, onde assinou um texto sobre as blogueiras de moda. Ela mesma acaba de se tornar uma persona da internet, usando toda sua expertise e renome para dar vida ao costanzapascolato.com.br, em que aborda as idas e vindas da área pela qual é apaixonada. Sua visão de vida está também nos três livros que publicou: “Essencial: o que você precisa para saber viver com mais estilo”, “Como ser uma modelo de sucesso” e “Confidencial”.

Hoje não se incomoda com a notoriedade, mas ainda lhe causa um certo estranhamento. “Eu não canto, não danço, não atuo, não entendo o porquê dessa fama.” Mas uma busca por seu nome no oráculo Google leva a aproximadamente 165.000 resultados. Em mais um desses momentos de reavaliação da vida, Costanza é também um poço de sabedoria, alguém que é grata pelas oportunidades que teve, dribla o tédio com maestria e, acima de tudo, se respeita. “Sou super CDF, sempre fui, faço tudo o que for necessário para cuidar bem de mim”, esclarece. “Estou com 73 anos, vou fazer 74 em setembro, e de sete em sete anos eu sempre penso muito nas coisas, faço uma reavalição, dou um redirecionamento.” Qual rumo tomará agora? Vamos descobrir…

Marcia Mello: Há alguma receita para se manter na ativa com tanta energia por tanto tempo? Costanza Pascolato: Eu sempre quero estar muito ocupada. Tenho o privilégio de fazer o que gosto, o que é essencial. Claro que a gente sempre tem de enfrentar algumas coisas de que não gostamos para conseguir chegar a este ponto, aguentar pessoas que são tão diferentes de você…

MM: É um exercício de tolerância?

CP: Quanto mais velho a gente fica, também fica mais radical. Felizmente minha cabeça funciona muito bem, e faço sim um esforço para entender melhor os outros, ter mais compaixão. Não é piedade, veja bem.

MM: O corpo também funciona bem?

CP: Faço Pilates desde 2001. Minha filha que me apresentou e eu nunca mais parei. Não estou uma trapezista, não tenho mais tanta agilidade, mas sempre me mantive ativa, nunca deixei de caminhar. Agora faço Pilates quatro vezes por semana, antes fazia cinco.

MM: Como é esse momento de reavalição?

CP: Às vezes é preciso parar. Passei a vida toda buscando uma autorrealização, não sei se fui uma mãe fantástica, talvez estivesse um pouco distraída. Antes de minha mãe falecer, em 2010, eu quis me reencontrar afetivamente com ela. Sempre houve, de alguma forma, uma competição, e na verdade foi muito bom estar perto dela. Fiquei com tudo o que era dela e encontrei umas cartas. Foi muito emocionante ler essas cartas. Não ficou nada debaixo do tapete, entende?

MM: Dona Gabriella era uma mulher muito marcante, qual seu maior legado?

CP: Ela era uma matriarca, por conta da época dela, da criação dela. Estava com 94 anos e se enganou. Deixou de tomar os remédios, era muito autoritária e não aceitava nenhum tipo de pressão. Ela me disse “não quero mais ficar”… e três semanas depois ela foi embora. Mas era de uma imensa dignidade.

MM: Como conviver com essa perda?

CP: Eu tenho facilidade grande de ter depressão. Todas as depressões são iguais, é um sofrimento difícil de explicar, um vazio. Tenho uma tendência a ficar deprimida, mas no que eu consigo sair, me trato, continuo trabalhando e me mexendo fisicamente. É terapêutico. Estou comendo direito, me movimentando. É preciso se respeitar, e eu procuro me conhecer, me cuidar. Nesses momentos eu decido repriorizar minhas coisas. Parece bobagem, mas não é.

MM: Quais as prioridades agora?

CP: Penso em ficar mais tempo com meus netos, em como ser mais útil para o outro, conhecer o outro, se colocar no lugar do outro, ver como ajudar, realmente se interessar pelo outro. É difícil… há pessoas que levam uma vida para conseguir compreender isso, mas não conseguem viver isso. Quando a gente toma uma bordoada da vida aprende a tirar seu ego do caminho. Nunca entendi essa coisa do ego.

MM: Mas a moda, sua área de atuação, é rodeada de egos. O que acha disso?

CP: Acho falta de inteligência ser arrogante. Eu tive a sorte e o privilégio de ter educação, de nascer no lugar certo. Ter ou não ter dinheiro nunca foi fundamental, sempre me virei para trabalhar, sempre fui dona do meu nariz, e consegui passar isso para minhas filhas. Acho que a arrogância é sinal de insegurança, só é arrogante aquele que está inseguro. Muitas vezes, não é preciso nem se manifestar… mas só as pessoas realmente inteligentes e interessantes são assim.

MM: A notoriedade não infla o ego?

CP: Levei muito tempo para entender que eu era notória, e fiquei confusa. Eu não canto, não danço, não represento, por que as pessoas me reconhecem nas ruas? Hoje não ligo mais, mas no começo eu estranhava. Uma hora eu deixei isso pra lá, até porque todo mundo é gentil, a maioria tem uma ressonância agradável. As vezes me confundem com a Gloria (Kalil)… ela não gosta, mas eu não ligo.

MM: Hoje há meninas que ficam famosas muito rapidamente na moda, como as blogueiras. Como vê esse fenômeno?

CP: O blog das meninas está estruturado em cima da própria imagem e personalidade delas. Fiz um texto para a revista Glamour, que trazia algumas blogueiras na capa. Como eu disse lá, elas são a representação do que as moças querem ser, é um mercado gigantesco. Desde que eu comecei a trabalhar em revistas, nos impressos, nos anos 1970, houve uma revolução monumental nos veículos. As seguidoras das blogueiras não querem só a imagem, mas o estilo de vida que elas passam.

MM: A senhora agora também é blogueira de moda?

CP: Meu blog não tem nada a ver com isso, não vou fazer look do dia geriátrico, passo muito além, falo de coisas que acontecem.

MM: Que estilo de vida é esse que essa geração tanto deseja?

CP: Acabei de ver o filme da Sofia Coppola, o Bling Ring. O filme é chatinho, mas tem o importante e crucial, mostra bem essa exasperação, essa classe social que se entedia em casa e é de uma banalidade fenomenal. A superficialidade dessa Paris Hilton? A gangue roubava e a pessoa nem se dava conta. É um absurdo o estilo de vida dessas criaturas. O que é Paris Hilton? Nada. O que é Lindsay Lohan? Eu a vi em Paris … dá pena. Essa geração que vive da imagem, antes de ser alguma coisa. O adulto que elas serão eu não sei.

MM: Falta base?

CP: O que me incomoda é a questão dos valores. Não é moralismo, são valores de dignidade, passados de geração em geração. Tive a sorte e o privilégio de ter um pai intelectual, minha mãe era de uma enorme retidão. Não existe mais isso. Tudo pode. Tem também a questão da corrupção, a ausência generalizada de valores. A preocupação apenas com a imagem tem levado as pessoas também a uma deformação estética.

MM: Como é envelhecer nesta sociedade?

CP: A gente tem de aprender a se cuidar pensando na velhice. Envelhecer é se respeitar, para que você possa ser o melhor da sua idade. A juventude eterna não existe. Há o masculino e o feminino, o animal humano se interessa pelo outro para reprodução, e a mulher tem de ser atraente, parecer jovem, mas esse momento reprodutivo passa… Sou contra se iludir dentro de certos papéis, o que as pessoas fazem, tiram a pele e quando se olham no espelho não se reconhecem. Acho que tem de se cuidar, ir ao dermatologista, mas não adianta fazer 500 cremes, ficar mudando. Tem de se proteger, fazer o básico.

MM: O que a senhora sonha em fazer que ainda não fez?

CP: Não tenho a menor ideia. As coisas vão aparecendo, não tenho grandes projetos. Vou fazendo as coisas que tenho de fazer. Vivendo a vida.

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